sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Transtorno desafiador opositivo e as Figuras de Poder: debates e considerações.

Por Maria Jamila Santos¹
Carlos Henrique²

RESUMO: O que se pretende com esse texto é discutir como essas “figuras de poder” são percebidas na formação da personalidade, bem como, as influências das relações estabelecidas na sociedade capitalista, são determinantes na formação do transtorno desafiador opositivo (TDO).

Indubitavelmente, afirmamos que a sociedade contemporânea, é resultado de grandes mudanças, no decorrer dos últimos séculos. Consequentemente, as relações sociais também se transformam, do mesmo modo que a formação dos indivíduos para vida social também se altera. Para Marx, o modo de produção é que orienta o desenvolvimento da vida social, política e intelectual. Nesse sentido, não podemos negar o contexto histórico-social em que se da o processo de formação da psiquê. O contexto portanto, é uma sociedade capitalista, que estabelece uma sociedade dividida em classes sociais, a saber, burguesia e proletariado, em que a classe burguesa que domina e explora, e a classe proletária vitíma da exploração que alimenta o desejo egoísta da burguesia. É claro, que essa sociedade, de alguma forma gera indivíduos que apresentam psicopatologias, dentre várias, nós pretendemos discutir o TDO – Transtorno Desafiador Opositivo distúrbio de comportamento de recusa a qualquer figura de autoridade.
Na década de 30, Erich Fromm, esboçou uma reflexão teórica “da autoridade e da família” questionando os postulados alusivos às relações pais e filhos, elementos fundamentais na construção do conceito freudiano do complexo de édipo. Na verdade, o trabalho de Fromm foi elaborar uma série de questionamentos em relação aos contextos sócio-históricos na formação dos indivíduos. E constatou que o núcleo específico da neurose e, na realidade, resultado da pressão social exercida sobre a pessoa durante os seus primeiros anos de vida.
É justamente nessa fase, que pode-se constatar, o transtorno desafiador opositivo. Ou seja, na infância pode-se desenvolver um comportamento de recusa, a qualquer forma, de autoridade. Esse comportamento pode ser resultado de um momento difícil no processo do torna-se autônomo em relação a primeira pessoa emocionalmente. Geralmente, quando se tem uma criação rígida a tendência a desenvolver esse transtorno na adolescência e posteriormente na idade adulta é muito grande. Estudos revelam que 16% da população em idade escolar, tendem desenvolver TDO, sendo mais comum em meninos do que em meninas.
A criança quando nasce, ela já encontra uma realidade existente, relações hierarquicamente estabelecidas, de modo que a existência social determina suas consciências: “Não é a consciência dos homens que determina sua existência, mas, pelo contrário, sua existência social lhes determina a consciência.”( FROMM,1970. p.29). Nesse sentido, ainda de acordo com Fromm, a solidão e a impotência encontraram na indústria moderna artifícios da felicidade de consumo e estímulos para o rápido alívio psicológico da condição humana – que em seu dinamismo tende a procurar soluções de alguma forma, com possibilidades de satisfação, ainda que ao preço da violência, da neurose e servidão voluntária. Encontra-se aqui a explicação para o nazifascismo, que é na verdade a ânsia de poder e não é originada da força, mas da fraqueza.
Toda essa recusa na verdade é um mecanismo de defesa dos indivíduos, que desenvolvem um comportamento contrário a todo tipo de autoritarismo, e principalmente aos que em suas funções de tal maneira agem. Ao ponto que, o problema é bem mais complexo do que as pessoas pensam, quando em atitude reducionista, transferem a culpa exclusivamente a indivíduo X ou Y, é um problema que remonta a repensar as relações estabelecidas na sociedade contemporânea.

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¹ Mestre em Psicologia Social Universidade de Brasília.
² Graduando em História pela Universidade Estadual de Goiás. 

Referências Bibliográficas:
FROMM, E. O Medo à Liberdade. Tradução de Octávio Alves Velho. 14ª Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1983. 
FROMM, E. Crise da Psicanálise - ensaios sobre Freud, Marx e Psicologia Social. Tradução de Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: ZAHAR, 1971, p.153-4.
FROMM, E. Psicanálise da Sociedade Contemporânea. Tradução de E. A. Bahia e Giasone Rebuá. 10ª Ed. Rio de Janeiro: ZAHAR, 1983. 



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