Por Maria Jamila Santos¹
Carlos Henrique²
RESUMO: O
que se pretende com esse texto é discutir como essas “figuras de poder” são
percebidas na formação da personalidade, bem como, as influências das relações
estabelecidas na sociedade capitalista, são determinantes na formação do
transtorno desafiador opositivo (TDO).
Indubitavelmente, afirmamos que a sociedade contemporânea,
é resultado de grandes mudanças, no decorrer dos últimos séculos.
Consequentemente, as relações sociais também se transformam, do mesmo modo que
a formação dos indivíduos para vida social também se altera. Para Marx, o modo
de produção é que orienta o desenvolvimento da vida social, política e
intelectual. Nesse sentido, não podemos negar o contexto histórico-social em
que se da o processo de formação da psiquê. O contexto portanto, é uma sociedade
capitalista, que estabelece uma sociedade dividida em classes sociais, a saber,
burguesia e proletariado, em que a classe burguesa que domina e explora, e a
classe proletária vitíma da exploração que alimenta o desejo egoísta da
burguesia. É claro, que essa sociedade, de alguma forma gera indivíduos que
apresentam psicopatologias, dentre várias, nós pretendemos discutir o TDO – Transtorno Desafiador Opositivo distúrbio
de comportamento de recusa a qualquer figura de autoridade.
Na década de 30, Erich Fromm, esboçou uma reflexão
teórica “da autoridade e da família” questionando os postulados alusivos às
relações pais e filhos, elementos fundamentais na construção do conceito
freudiano do complexo de édipo. Na verdade, o trabalho de Fromm foi elaborar
uma série de questionamentos em relação aos contextos sócio-históricos na
formação dos indivíduos. E constatou que o núcleo específico da neurose e, na
realidade, resultado da pressão social exercida sobre a pessoa durante os seus
primeiros anos de vida.
É justamente nessa fase, que pode-se constatar, o
transtorno desafiador opositivo. Ou seja, na infância pode-se desenvolver um
comportamento de recusa, a qualquer forma, de autoridade. Esse comportamento
pode ser resultado de um momento difícil no processo do torna-se autônomo em
relação a primeira pessoa emocionalmente. Geralmente, quando se tem uma criação
rígida a tendência a desenvolver esse transtorno na adolescência e
posteriormente na idade adulta é muito grande. Estudos revelam que 16% da
população em idade escolar, tendem desenvolver TDO, sendo mais comum em meninos
do que em meninas.
A criança quando nasce, ela já encontra uma realidade
existente, relações hierarquicamente estabelecidas, de modo que a existência
social determina suas consciências: “Não é a consciência dos homens que
determina sua existência, mas, pelo contrário, sua existência social lhes
determina a consciência.”( FROMM,1970. p.29). Nesse sentido, ainda de acordo
com Fromm, a solidão e a impotência encontraram na indústria moderna artifícios
da felicidade de consumo e estímulos para o rápido alívio psicológico da
condição humana – que em seu dinamismo tende a procurar soluções de alguma
forma, com possibilidades de satisfação, ainda que ao preço da violência, da
neurose e servidão voluntária. Encontra-se aqui a explicação para o
nazifascismo, que é na verdade a ânsia de poder e não é originada da força, mas
da fraqueza.
Toda essa recusa na
verdade é um mecanismo de defesa dos indivíduos, que desenvolvem um
comportamento contrário a todo tipo de autoritarismo, e principalmente aos que
em suas funções de tal maneira agem. Ao ponto que, o problema é bem mais
complexo do que as pessoas pensam, quando em atitude reducionista, transferem a
culpa exclusivamente a indivíduo X ou Y, é um problema que remonta a repensar
as relações estabelecidas na sociedade contemporânea.
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¹ Mestre em Psicologia Social Universidade de Brasília.
² Graduando em História pela Universidade Estadual de Goiás.
Referências
Bibliográficas:
FROMM,
E. O Medo à Liberdade. Tradução de
Octávio Alves Velho. 14ª Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1983.
FROMM,
E. Crise da Psicanálise - ensaios sobre
Freud, Marx e Psicologia Social. Tradução de Álvaro Cabral. Rio de Janeiro:
ZAHAR, 1971, p.153-4.
FROMM,
E. Psicanálise da Sociedade Contemporânea.
Tradução de E. A. Bahia e Giasone Rebuá. 10ª Ed. Rio de Janeiro: ZAHAR, 1983.